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sábado, agosto 30, 2003

Blogs, Universos em Prosa, um livro digital copyleft

Blogs, Universos em Prosa, um livro digital copyleft



segunda-feira, agosto 25, 2003

ESPAÇOS VIRTUAIS E CONSCIÊNCIA COLETIVA - OS WEBLOGS



Uma das propostas deste trabalho é analisar como se dão os processos de construção de uma comunidade de conhecimento através de um novo recurso tecnológico chamado weblog. Citamos o processo de construção do mito através da oralidade, que é, uma expressão da consciência coletiva por uma interfase primitiva, citamos agora uma interfase de tecnologia moderna, diríamos mais, futurística.
Com o avanço das tecnologias da informação utilizados na Internet, surgiram em meados do ano 2000, os weblogs, que rapidamente estão se transformando no meio mais eficaz de comunicação e expressão "on-line".
Weblog, ou, literalmente "rede de registros", é pensado, divulgado e, muitas vezes, utilizado como um diário (pessoal ou coletivo) ou jornal na Internet. Através de recursos técnicos altamente avançados porém simplificados, o usuário comum pode manter uma página pessoal na Internet fácil e rapidamente.
Utilizando interfaces gráficas simples, o usuário de weblog pode manter cotidianamente informações atualizadas na Internet. Uma das grandes vantagens dos blogs (como são chamados carinhosamente), é sua escalabilidade, ou seja, a possibilidade de atualizar suas informações de qualquer computador conectado à Internet exigindo apenas o navegador (browser). Eles não se limitam a um único sistema operacional e mostram poucos conflitos com navegadores diversos. A rapidez com que se consegue publicar uma informação é sua característica mais impressionante. Enquanto um website comum pode levar semanas ou meses em elaboração, desenvolvimento, testes, design, layout, configuração, etc, um blog leva poucos minutos, utilizando-se de técnicas de "templates", "CSS" e "Javascripts".
Criar um blog não exige nenhum conhecimento de programação do usuário, nem mesmo desses termos que mencionamos. Sua interfase intuitiva e simplificada deixa o usuário à vontade para colocar seus textos, suas fotos e, com um pouco mais de dificuldade, seus sons.
O que se pretende ao longo do trabalho é verificar como se dão as relações entre os usuários que utilizam blogs, suas redes de sociabilidade, suas manifestações, suas vivências, suas intimidades e criatividade, diante de toda uma rede mundial de pessoas (conhecidas e desconhecidas).
Que potenciais terapêuticos terão essas inconfidências publicadas cotidianamente para quem escreve e para quem as lê? Existem usos diversos para os weblogs, mas é fato que a maioria dos blogueiros (como são chamados esses confidentes virtuais) tem o hábito de publicar diariamente fatos pessoais e navegar por blogs de desconhecidos. Uma prática comum entre os blogueiros, é colocar em seus diários, links para seus weblogs preferidos, que, muitas vezes, são amigos (do colégio, da faculdade, do trabalho ou familiares). Mais do que uma prática corriqueira, linkar outros blogs é uma atitude ética.
Uma outra característica que impressiona é o design. Em geral, os blogs têm uma qualidade estética muito superior aos sites convencionais, sendo fonte de inspiração pra as webpages mais inovadoras e artísticas da web. Até onde pudemos perceber, a comunidade de blogueiros é em sua maioria adolescentes e estudantes de artes plásticas, informática, comunicação ou jornalismo, mas não é excludente nesse sentido, pois em todas as áreas encontramos profissionais que blogam.
Verificando a eficácia dos weblogs como instrumento de comunicação e aprendizado (e-learning), instituições, empresas e corporações começam a utilizar essa tecnologia para divulgar notas informativas sobre produtos e serviços, com direitos a uma resposta (feedback) ágil e a uma interação profunda. Há quem afirme tranqüilamente que os weblogs são premissas de uma nova imprensa mundial. Eles representariam a versão 'beta' de um futuro jornal efetivamente real, posto que nos blogs não existem editores, redatores ou outros profissionais intermediando o 'fato' do leitor-espectador.
Uma das questões mais intrigantes é o grau de sinceridade declarado nos blogs. Os usuários tendem a demonstrar aversão às máscaras sociais que são obrigados a usar no seu dia-a-dia e usam este instrumento como recurso revolucionário de prática social, e conseqüentemente, psicológica. Simultaneamente, alguns mais criativos, usam os blogs para criar diários pessoais de personagens fictícios. O personagem Bóris, da novela da Globo "O beijo do Vampiro", tinha um blog (www.boris.blogger.com.br).
O que encontramos nesses blogs é o reflexo do pensamento, das preocupações, angústias, desejos, criatividade, etc., de pessoas que exorcizam suas indignações, seus extravasamentos (afetivos, sociais, sexuais, etc.) em suas declarações diárias, semanais, ou mensais. A cultura dos weblogs mostra-se como um universo complexo da subjetividade individual e coletiva, como espaço construtor de redes de sociabilidade, como centro nervoso dessa estrada da informação em desenvolvimento. Aparecem como objeto de estudo da Psicologia Social e Coletiva, da Sociologia, da Antropologia, da Psiquiatria, da Arte e do Design, enfim, é um objeto complexo que envolve relações técnicas das mais variadas e dos mais diversos ramos do conhecimento. Sintetizam assim o projeto de "aldeia global" proposto ainda na década de 1960 por Marshall McLuhan: uma coletividade virtual de alta capacidade tecnológica, produzindo conhecimentos e estruturando saberes.
Desde o nascimento da WWW, profissionais, pesquisadores, universidades e demais instituições de pesquisa e desenvolvimento vêm tentando criar na Internet um mundo virtual paralelo ao mundo real, metaforizando ruas em vias da informação, casas em homepages, centros culturais e de referência em portais, etc. Agora, pela primeira vez, a Internet poderá funcionar como o mundo real, com vizinhos e padarias próximas de casa.
É que a proximidade entre o autor e o leitor nesse caso é tanta, que abre novas possibilidades para o comércio eletrônico. Se a bodega da esquina tivesse um blog, eu poderia escrever-lhes pedindo pão e leite e imediatamente receberia a confirmação do pedido. E, se tivesse esquecido de pedir os fósforos, ainda daria tempo de comunicar-lhes. Em se tratando de segurança de dados na Internet, todos os profissionais apontam falhas, portanto, não defenderia os weblogs como solução ao e-commerce.
Neste exato momento milhares de pessoas estão se dando conta do fenômeno chamado weblog. A cada instante, novos weblogs são criados, numa espiral ascendente de proporções ainda desconhecidas. Juntando assincronamente pensamentos e ações de milhões de pessoas numa construção de uma memória coletiva virtual de referência, porém sem consistência. Essa é a mais fiel estrutura que metaforiza a consciência individual, porque na cibercultura, o que a edifica é cada pessoa, como uma pedra minúscula, colorida num gigantesco painel de mosaico. A noção dessa realidade, desse devir virtual, é importante para a construção de uma consciência coletiva harmônica.
Veremos que o sentido semântico da palavra consciência é tão volátil quanto a própria consciência e, para dar uma cor à consciência da qual tratamos citamos esta passagem do livro "O que é Realidade":
"... A consciência animal não vai além daquilo que seus órgãos dos sentidos trazem até ele. (...) O animal não está preso apenas aqui, mas também ao agora..." págs. 18/19.
Semiologicamente,
"... só podemos pensar nas coisas através das palavras que as representam (...) quanto mais conceitos podemos articular, maior é o meu mundo, maior é o alcance e amplitude de minha consciência..." págs. 22/23.
Por consciência observamos uma ampla variedade de conceitos, mas quando tratamos de consciência coletiva, nos referimos ao que Pierre Lévi chama de Inteligência Coletiva. Segue trecho da abertura de conferência proferida em São Paulo, através do SESC em setembro de 2002:
"... Há muito tempo reflito sobre inteligência coletiva e não sou o único a fazê-lo. Isso é tema de inúmeras pesquisas em muitos países do mundo, pesquisas particularmente relacionadas com a utilização da Internet, de novas tecnologias, de fóruns de discussão virtual etc. Eu diria que não apenas o número de pessoas interessadas no assunto cresce, mas também o objeto de reflexão, que há mais ou menos dez anos vem tendo um crescimento extraordinário, pois há cada vez mais pessoas que se organizam por intermédio da Internet visando à cooperação intelectual. Esse é um movimento que se iniciou no domínio científico, pois foi a comunidade científica que inventou a Internet e que se serviu primeiro dela para trocas de idéias, cooperações etc. Podemos dizer que ela é uma das mais antigas praticantes da inteligência coletiva com suas jornadas científicas, seminários, colóquios onde cada um comenta o que faz e tentam construir juntos um saber comum, ao mesmo tempo que têm liberdade de propor teorias diferentes. Não é, pois, de se espantar que ela tenha inventado a Internet, o correio eletrônico, os fóruns de discussão e esse imenso hipertexto da web que, no fundo, reproduz a prática muito antiga da citação, da nota de rodapé, da bibliografia etc.
Não é só na comunidade científica que se pratica a inteligência coletiva, mas também - e cada vez mais - no mundo dos negócios, porque existe a necessidade de empregar pessoas capazes de tomar iniciativas, de coordenar, de inventar novas soluções, de resolver problemas e de fazer tudo isso coletivamente, de forma organizada. Evidentemente, essas novas ferramentas de comunicação são as mais adequadas para isso e há todo um movimento no "management" contemporâneo que visa desenvolver práticas de inteligência coletiva.
Há, também, outros campos, por exemplo, o da política ou, para falar de uma maneira mais ampla, o da cidadania. Hoje, muitas comunidades locais, muitos governos de vários países estão tentando aprofundar os processos de consulta da população, os processos de democracia deliberativa através de fóruns de discussão sobre questões de política local, permitindo à população deliberar sobre assuntos que lhe concernem diretamente. Há, portanto, um campo geral da ciberdemocracia. Acabo de publicar um livro sobre o tema, onde faço muitas referências a "sites" que tratam do assunto.
Há mais de dez anos pesquisadores em ciências sociais vêm refletindo sobre o vínculo social, o capital social e percebemos que uma das condições mais importantes para o desenvolvimento humano são as relações, os vínculos de trocas, de serviços, de conhecimento, de sociabilidade. Isso pode ocorrer na economia, no lazer, no jogo, em trinta e cinco mil coisas diferentes. Sempre se soube disso, mas estamos percebendo hoje a importância da relação social organizada, inventiva e viva. Quando eu digo organizada não quero dizer por um centro, uma instância superior, mas auto-organizada, espontânea, de alguma forma..."

De um modo geral todos os blogueiros antigos, ou seja, os que blogam a mais de 3 anos, são hackers. O crescimento exponencial dos weblogs e servidores de weblogs, inclusive no Brasil, possibilitou um caldeamento dos blogs, onde a ética blogeira não alcança. Contra isso muito blogs aderiram ao Manifesto Bloguístico, que trata basicamente da liberdade do blogueiro, de seu desprendimento das normas morais duvidosas.
Essa noção ética de sinceridade e liberdade não é partilhada pela maioria dos intenautas, principalmente por aqueles viciados em sala de bate-papo, cuja moral é basicamente enganar, ludibriar, fantasiar até não poder mais, escondidos atrás de avatares e nicks esquizofrênicos. Generalização injusta aos usuários de chats, mas facilmente verificável se observarmos a efemeridade dos contatos nessas salas, que logo que aprofundam laços sociais tendem a utilizar outras tecnologias comunicativas virtuais, como o IRC (Internet Relay Chat), o ICQ, os blogs e outros programas de mensagens virtuais.
A virtualidade do real na Internet é manifestada de forma diversa conforme a profundidade do envolvimento e o comprometimento do individuo com ela. Muitos usuários julgam o mundo virtualizado da Internet um mundo de brincadeira, inexistente e frio.
"... A realidade não é simplesmente construída, mas socialmente edificada..." (Guatarri, 1992, p. 36)
Através dos weblogs a maioria dos usuários põe em prática um hábito ainda raro de ver hoje em dia. Valorizam suas vidas a ponto de comentá-la com um publico abstrato. Valorizam sua realidade virtualizando-a.
"... o meio mais importante na manutenção da realidade é a conversa, ou seja, através dela, o mundo é incessantemente reafirmado. (...) Pela linguagem o mundo ganha sentido e significação..." (Guatarri, 1992, p. 72).
A realidade virtual seria, neste sentido, a identidade de uma realidade objetiva com seus motivos e preocupações.
Quando falamos de consciência consideramos que seja necessário termos bem claro outros conceitos que complementam o seu sentido. Portanto, os conceitos de inconsciência e de subconsciência, podem ser bastante esclarecedores.
O inconsciente é muitas vezes tido como um estado do corpo: Quando uma pessoa sofre um golpe ou pancada que lhe produz uma disfunção do cérebro; Quando se encontra sob influência do anestésico durante operação cirúrgica; Quando dorme; Quando age automaticamente, por habito ou reflexo. Nossas lembranças e recordações repousam no inconsciente quando não estamos pensando nelas:
"... Podemos definir o inconsciente como o reino dos pensamentos, desejos e ações vagas, não claramente reconhecidas nem completamente admitidas. É a região do pensamento incontrolado..." (Guatarri, 1992, p. 46)
Coloco aqui essas definições do subconsciente para tentar nos livrar de possíveis dúvidas conceituais, que ocorrem facilmente em campos tão controversos como a mente humana:
"... O subconsciente é o domínio dos instintos, das emoções e dos reflexos, em oposição ao reino consciente da razão. O subconsciente se relaciona principalmente com os pensamentos, sentimentos e desejos egoístas..." (Guatarri, 1992, p. 47)
Ao exercer a consciência o sujeito está sofrendo em seu corpo complexos processos metabólicos e em sua mente subjetivações diversas. Entre as tantas formas de subjetivação destaco as seguintes:
" Introjeção: é o meio pelo qual, inconscientemente, absorvemos idéias, atitudes emocionais, padrões de comportamento que vivenciamos;
" Identificação: é o meio pelo qual, automaticamente, imitamos o comportamento e maneirismos de alguém, colocando-nos em seu lugar;
" Projeção: é a maneira de atribuir a outrem desejos ou defeitos que não admitimos existir em nós mesmos.
Quando falamos de consciência coletiva, tratamos teoricamente, de uma consciência maior, mais ampla, mais completa, mais inteligente na medida em que as reflexões são exponenciais. Essa inteligência mais ampla foi muitas vezes tratada como uma característica de Deus e chamada de onisciência. A Internet através das ferramentas dos weblogs propiciam a aproximação mais palpável do que Chardin chamava de Noosfera.
"... Uma ecologia do virtual se impõe..." (Guatarri, 1992, p. 116)
"... Estranhos aparatos, dirão vocês, essas máquinas de virtualidade, esses blocos de perceptos e de afetos mutantes, meio-objeto meio-sujeito..." (Guatarri, 1992, p. 117)
Guatarri revela a existência de uma ecologia virtual, onde admite existirem castas, clãs, famílias, espécies e gêneros diversos de seres viventes na virtualidade, mas critica a amplitude epistemológica do que seja subjetivo:
"... A subjetividade entrou no reino de um nomadismo generalizado..." (Guatarri, 1992, p. 169)
E expõe uma preocupação emergente:
"... É verdadeiramente indispensável que um trabalho coletivo de ecologia social e de ecologia mental seja realizado em grande escala..." (Guatarri, 1992, p. 174)
É exatamente isso que está acontecendo agora no mundo virtual. Uma remodelagem geral de práticas, hábitos e pensamentos. Gerando na cibercultura um conceito novo para o website, são os weblogs, que utilizados de uma forma mais ampla e inteligentes passam a ser chamados de K-logs.
Os Know-logs, ou registros de conhecimento representam, estes sim, o verdadeiro significado de comunidades de conhecimento. São como pequenos jornais virtuais, ou portais, segmentados nos assuntos relevantes ao público, principalmente porque a audiência é quem publica e rege as pautas.
A diferença entre os k-logs e os weblogs, é uma questão organizacional e funcional e não estrutural.
Os k-logs nascem como alternativa viável a grupos de discussão que visam aprofundamentos nos mais variados campos do saber. Servem como interface de atualização de conhecimentos para coletividades em geral. Não limitando espacialmente, nem temporalmente a comunicação contínua. Por ser uma ferramenta simples, torna a comunicação de artigos, resenhas, opiniões e críticas muito mais eficaz.
Os blogs utilizados para a criação de inteligência, ou consciência coletiva unem a comunicação assíncrona dos e-mails, com a onipresença da WWW.
Alguns pensadores mais céticos não vêem os blogs como ferramenta revolucionária, mas isso se deve mais ao conceito de 'revolução' que utilizam do que às mudanças de práxis que esta ferramenta está possibilitando. Considero os blogs revolucionários, por que a partir deles uma nova relação 'homem-internet' está se formando. Mesmo os heavy-users da informática se espantam com a praticidade de um blog.
Enquanto escrevo, milhares de pessoas estão ouvindo pela primeira a palavra blog, milhares de outras estão criando novos blogs, e outro tanto os atualizando.
Surgidos a pouco mais de três anos os blogs só vieram a se tornar fenômeno no Brasil no segundo semestre do ano 2002, quando empresários brasileiros resolveram investir nessa nova tecnologia. A Globo é uma destas empresas, e tende se tornar a principal incentivadora desta nova prática no Brasil.
A Blogosfera, ou seja esse novo ambiente atmosférico virtual, não pára. Enquanto estamos aqui, eventos estão sendo organizados, tecnologias estão sendo aprimoradas, e já existem móbile-blogs, áudio-blogs e vídeo-blogs, além dos comuns photo-blogs. Mas para falarmos sobre essas novas possibilidades é preciso mais estudo e mais pesquisa.


O SER SIMBIONTICO


O ciberespaço é um complexificador do real. Ele aumenta a realidade suprindo nosso espaço fisico em três dimensoes de uma nova camada eletrônica. O ciberespaço seria assim um espaço magico, uma rede de inteligências coletivas. Eh este espaço rizomatico que vai se comportar como um "Cybionte", auto-organizante e quase orgânico. A humanidade pos-moderna esta povoada, portanto, de homens simbioticos. Como afirmou Joel de Rosnay (1997:156): “o homem do futuro sera o homem simbiotico”.
Enquanto técnica, o ciberespaço configura o que Heidegger chama a "concepçao antropologico-instrumental da técnica" - segundo a qual, por exemplo, nao ha qualquer diferença entre um machado de pedra e um satélite de TV como o Telstar... Esta concepçao é hoje dominante: nao apenas porque se impoe "imediatamente e de forma palpavel", mas porque é "exata no seu contexto". As tecnologias intelectuais relacionadas à informatica estao trazendo à tona uma modalidade de pensamento eminentemente imagético e desterritorializado. Os icones e imagens, caracteristicos do pensamento mitico associado à tecnologia intelectual da oralidade (Levy, 1995: 82), voltam à tona. Esta imagética, porém, alimentada pelos recursos tecnologicos, adquire mais duas dimensoes: a espacializaçao, a conquista da terceira dimensao, e a temporalidade propria. Como as outras tecnologias da inteligência, o ciberespaço traz à tona uma nova consciência. A inteligência coletiva é potencializada pelas interfaces maquinicas da Era Elétrica.
A escrita, de acordo com Lévy, “nao so cria um vinculo entre geraçoes maiores, mas permite um acumulo de conhecimentos no interior de uma sociedade que é também muito maior e permite, além disso, uma organizaçao da sociedade muito mais complexa do que uma sociedade sem escrita”. Depois da escrita, a humanidade sentiu a necessidade de organizar os conhecimentos acumulados, criando as enciclopédias e mais recentemente as bibliotecas. Mesmo incapaz de assimilar tanto conhecimento o homem se sente na necessidade de produzir mais, e encontra no ciberespaço o lugar ideal para essa difusao.
“N?o se trata mais de uma enciclopédia, mas de uma espécie de plasmopédia, isto é, um espaço de saber vivo e dinâmico. N?s somos o texto”.(Lévy, 1998)
Essa afirmaç?o de Lévy transcende o pr?prio texto, pois ele coloca o leitor como co-autor de cada texto. Cada leitor é assim um agente potencializador dos sentidos simb?licos do texto, e vai além, afirmando:
“Na perspectiva dos mundos virtuais de significaç?es, a comunicaç?o n?o é mais concebida como difus?o de mensagens, troca de informaç?o, mas como emergência continuada de uma inteligência coletiva. N?o se deve, evidentemente, concebê-la como uma fus?o de inteligências individuais, em uma espécie de magma indistinto, mas, ao contr?rio, como um processo de crescimento, de diferenciaç?o, de ramificaç?o e de retomada mutual de singularidades”.
A inform?tica é produto do desenvolvimento de v?rios dom?nios cient?ficos a partir da década de 40 (cibernética, 1940; inteligência artificial, 1950; teoria da auto-organizaç?o e de sistemas, 1960; e da comunicaç?o de massa do p?s-guerra). Philippe Breton prop?e a divis?o da hist?ria da inform?tica em três etapas: a primeira, de 1940 à 1960, onde a inform?tica estava diretamente ligada à cibernética; a segunda, de 1960 à 1970, com os grandes sistemas centralizados e vinculados à projetos militares; e a terceira, de 1970 até hoje, caracterizada pela micro-inform?tica e pelas redes de telecomunicaç?o. Acrescentar?amos a essas etapas uma divis?o mais recente que inicia nos anos 90, com a substituiç?o dos “mainframes” pelos “backbones”. Ambos s?o sistemas servidores de informaç?o para redes inform?ticas, mas de arquitetura bastante diferenciada.
No livro “Understanding media”, encontramos uma nova forma de interpretaç?o da realidade técnica, e aprendemos a entender as tecnologias como extens?es do nosso corpo e mente. Ao estendermos o nosso sistema nervoso, através da tecnologia elétrica, as nossas vidas privadas e corporativas tornam-se informaç?o. Na "idade da informaç?o" (express?o que, seguramente, McLuhan é dos primeiros, se n?o o primeiro, a utilizar), a energia, a produç?o, as mercadorias tornam-se cada vez mais informaç?o. Dizermos que as tecnologias s?o "extens?es" do homem é a mesma coisa que dizermos que elas s?o "traduç?es", formas distintas de traduzirmos um modo de conhecimento num outro, uma maneira de experiência em novos tipos.
Em todas as culturas sempre existiu uma "geografia mental", uma "mem?ria coletiva", uma "alucinaç?o" (constitu?da por figuras, s?mbolos, regras, verdades m?ticas, contos, etc.), que é propriedade de todos e se encontra livre dos limites do espaço e do tempo. Ent?o a rede elétrica seria um homônimo dos nossos neurônios em toda sua complexidade de ligaç?es e ramificaç?es ca?ticas. McLuhan afirmava que o uso de determinado ?rg?o ou sentido do corpo entorpecia os demais, é o que se chama de ‘concentraç?o’. Dessa forma a televis?o, o r?dio ou o jornal impresso, nos habilita à captaç?o e absorç?o de informaç?es, deixando em segundo plano nossa capacidade de controle, comando e decis?o. Ent?o, supunha-se que ao ter a possibilidade de "programar a consciência", n?s poder?amos escapar ao entorpecimento dos outros media. Programar a consciência é, neste sentido, dar um direcionamento causal para a aquisiç?o de conhecimentos. ? programar o despertador, a gravaç?o daquele programa ao vivo que n?o poderemos ver naquela hora, é o recebimento de e-mail de uma lista de discuss?o, etc.
A sociedade est? em mutaç?o e todos est?o se dando conta disso, uns mais rapidamente outros mais lentamente. Estamos começando a viver na Sociedade do Controle, onde podemos ordenar quase todos os aspectos de nossa realidade, mas estamos apenas no começo, numa estranha transiç?o. Segundo Deleuze, as "sociedades disciplinares", de que Foucault é o grande pensador, têm o seu in?cio nos séculos XVII e XVIII, atingindo o seu apogeu nos princ?pios do século XX. Estas sociedades centram-se na organizaç?o de grandes meios de encerramento, pelos quais o indiv?duo vai passando ao longo da sua vida: a fam?lia, a escola, o quartel, eventualmente o hospital ou mesmo a pris?o (meio de encerramento por excelência, e que serve de modelo a Foucault). Mas, desde os finais da 2? Guerra Mundial, estamos a entrar nas "sociedades de controle", sociedades que funcionam n?o num enclausuramento, mas num controle continuo e na comunicaç?o instantânea. As "sociedades disciplinares" est?o, assim, destinadas a serem substitu?das pelas "sociedades de controle", tal como, a partir do século XVII, substitu?ram as "sociedades de soberania". A cada um destes tipos de sociedades, determinadas por diferentes estratégias, correspondem diferentes tipos de m?quinas. ?s "sociedades de soberania" correspondem às m?quinas simples ou dinâmicas, às "sociedades disciplinares" correspondem às m?quinas energéticas, às "sociedades de controle" correspondem as m?quinas cibernéticas e aos computadores.
“A velocidade vertiginosa da luz substitui as distancias espaciais, anula as distinç?es entre lugares e povos; a palavra de ordem é a realidade virtual, porque a realidade atual n?o é suficiente para nossos esp?ritos, n?o nos satisfaz. Dessa forma encontramos no espaço cibernético as express?es reais de verdades virtuais distintas e, simultaneamente, express?es virtuais das diversas realidades efetivas. O Simbionte é real e virtual ao mesmo tempo. Ele n?o respeita o espaço e distorce o tempo. Na sua profunda dependência por interfaces mais complexas ele se hipercomplexifica. Crescendo a cada instante, suas hiperligaç?es se ramificam desordenadamente em busca de uma coerência semântica totalizante, mas n?o totalit?ria. ? o universal pelo local. Eu sou o in?cio e o fim, ele, esse ser simbionte, é o pr?prio meio, sincrético e cibernético.




quinta-feira, agosto 07, 2003

Roberto Marinho morreu!!!
Que onda! Sempre que alguém importante como ele morre o mundo muda, espero que eu fique rico com as mudanças que virão.


BLOGGER


A INTELIGÊNCIA COLETIVA



Nossos pensamentos derivam das idéias e da linguagem. Essas s?o tecnologias cognitivas que nos foram transmitidas por um processo ancestral em nossa sociedade.
Com a cultura, nasce a inteligência coletiva que, acumula, engendra e cria os saberes de um coletivo.
Experiência e teoria s?o colocadas a partir de agora dentro de um mesmo processo criativo que, sem equipamentos complexos que o auxiliem, dificultam o desenvolvimento da pesquisa cient?fica tornando-a praticamente nula. Tome-se o caso desta pesquisa que usou além dos habituais recursos tecnol?gicos de transporte, comunicaç?o e pesquisa (ônibus, telefone e biblioteca), usou também elementos mais complexos como gravadores de som e imagem, processadores de textos digitais e outras interfaces.
Estamos presenciando no mundo novas formas de pensar e de conviver que s?o, de certa forma, mal compreendidas pelas instituiç?es conservadoras. A inform?tica e seu meio digital convergem para si toda a leitura, escrita, vis?o, audiç?o, criaç?o e aprendizagem em todas as sociedades, em maior ou menor grau, mas cada vez mais rapidamente.
A convergência digital do mundo humano reflete uma evidente metamorfose técnica que observamos nas redes de comunicaç?o, no ensino das escolas e universidades, na informatizaç?o das empresas e no mundo do trabalho. Vemos transformarem-se irreversivelmente os novos problemas técnicos, as velhas preocupaç?es pol?ticas e os atuais projetos culturais.
O h?bito antropol?gico milenar da escola é baseado no falar do professor e na escrita do aluno, postos em pr?tica à cerca de cinco mil anos. A integraç?o da imprensa ao ensino se deu a menos de 500 anos. Hoje, as possibilidades propostas pela inform?tica e o audiovisual nos processos de ensino e aprendizagem, podem até supor o abandono desta pr?tica milenar, mas essa l?gica de exceç?o n?o se aplica ao estudo do conhecimento humano. Cada caractere gerado, cada idéia refletida, acrescenta ao imagin?rio coletivo um significado, um processo criativo e semântico. No espaço do saber coletivo tudo é acrescentado.
A inteligência coletiva plena ainda n?o foi atingida porque nossa espécie ainda se encontra num momento hist?rico em que cada indiv?duo é observador e astucioso, têm boa mem?ria, mas ainda desconhece a linguagem pra articular tudo isso (Lévy, 2001).
A insensatez das massas nada tem a ver com a consciência coletiva. Esses aglomerados de gente motivados por pânico ou entusiasmo, n?o pensam juntos, comunicam-se através de mensagem simples e gritos de ordem, n?o dialogam ou refletem. O formigueiro fornece, também, o exemplo contr?rio da inteligência coletiva, l?, como nos cupinzeiros, nada é pensamento, todas as pr?ticas est?o no instinto, no pré-humano.
Como passar do rumor das massas ao canto de um coral? Nossa inteligência é a soma de todas as nossas intelecç?es, nossa sabedoria e nosso conhecimento individual. ? nosso esp?rito, nossa alma. Um coletivo inteligente é como uma entidade divina, mais complexa e mais abrangente que a alma humana. Para n?o deixar d?vidas, intelig?veis s?o as formas e as idéias das coisas, inteligentes s?o os que possuem a faculdade de perceber ou de compreender as idéias, intelecç?o é o processo do conhecimento. ? a cogniç?o, é tornar o intelig?vel compreens?vel ao inteligente.
A inteligência coletiva é o objetivo final de qualquer sociedade. Mais do que mesclar os pensamentos individuais é conduzi-los coletivamente, de forma harmônica ao bem comum. ? o paradigma da tecnologia da informaç?o, da sociedade em rede, da cultura cibernética, com seus novos processos de interaç?o, de inovaç?o e de usos.
Quando Darwin divulgou suas idéias em 1859, foi discriminado, ridicularizado e quase excomungado. Cerca de 100 anos depois um outro excêntrico cientista, o cientista social Marshall McLuhan (1911-1980), proferiu uma frase em 1964, que retomo agora para exemplificar a importância de pensarmos a técnica no mundo de hoje. Ele faz estas declaraç?es:
"Estamos nos aproximando rapidamente da fase final das extens?es do homem: a simulaç?o tecnol?gica da consciência. Pela qual o processo criativo do conhecimento se estender? coletivamente e corporativamente em toda a sociedade humana". (McLuhan, 1964)
Isso j? é poss?vel e o caminho é inevit?vel. Quando escreveu essa frase, a Internet era impens?vel. Computares pessoais era considerado pensamento subversivo (como na U.R.S.S. até seu fim). V?deos-cassete, celulares e dvd's, idem.
Com a possibilidade real de uma virtualizaç?o e onipresença do conhecimento humano, com a realidade da comunicaç?o à distância, a telepresença e as videoconferências, podemos vislumbrar um caminho para o desenvolvimento do coletivo humano. O surgimento do ciberespaço abriu uma nova porta para as percepç?es.
O espaço f?sico ou geogr?fico é apenas um dos espaços habitados pelo homem. Outros espaços est?o sendo habitados simultaneamente e é nossa percepç?o que nos situa em cada um deles. Vivemos também em espaços afetivos, espaços estéticos, espaços sociais, espaços hist?ricos e em espaços antropol?gicos.
Os espaços antropol?gicos s?o mundos semiol?gicos que nossa cogniç?o se d? ao trabalho de nos localizar. S?o espaços de significaç?es que surgiram seqüencialmente durante o percurso da hist?ria do homo-sapiens e que hoje convivem temporalmente e espacialmente causando fenômenos v?rios. Definido por Pierre Lévy (1999):
"Um espaço antropol?gico é um sistema pr?prio do mundo humano, dependente de técnicas, de significaç?es, da linguagem, da cultura, das convenç?es, das representaç?es e das emoç?es humanas."
S?o quatro os espaços antropol?gicos:
1. O Espaço Terra caracterizado pela predominância da linguagem oral, das técnicas e das formas mais elementares de organizaç?o social, como a religi?o em seu sentido mais amplo;
2. O Espaço Territ?rio, cujas caracter?sticas s?o o dom?nio da agricultura, do surgimento das cidades e da escrita;
3. O Espaço Mercantil predominando o controle dos fluxos de materiais, dos neg?cios distantes, das estradas e dos viajantes;
4. O Espaço do Saber onde a sabedoria coletiva orquestra as tendências.
A dificuldade de trabalhar o tema da inteligência coletiva reside no fato de que seu objeto é o "saber" em geral. Sendo o "saber", ou seja, a soma de todos os conhecimentos, a quest?o central da inteligência de um coletivo, a tudo est? relacionada. Este fato, torna este estudo hol?stico, semi?tico, transcendental, pois trata de tudo que é acess?vel ao conhecimento, se relaciona com a mem?ria e a criaç?o. Este estudo condensa no presente a acumulaç?o do passado e a criaç?o do futuro.
Muitas passagens ser?o num primeiro momento incompreens?veis, mas s? no primeiro momento. A l?gica mosaica na qual foi conduzido este trabalho, nos traz a liberdade de leitura. Oposta à l?gica linear de exposiç?o, esta nova l?gica garante o mesmo n?vel de compreens?o independente da ordem da leitura. Os cap?tulos numerados poderiam ser substitu?dos por s?mbolos quaisquer que representassem muito mais o conte?do do que uma ultrapassada l?gica cartesiana.
Tudo se relaciona a tudo. Tudo est? conectado. A sociedade, o ecossistema e os organismos est?o ligados em redes. "Entender redes é em ?ltima an?lise entender ecossistemas" (Capra, 1996).


O SER SIMBIÔNTICO



O ciberespaço é um complexificador do real. Ele aumenta a realidade suprindo nosso espaço f?sico em três dimens?es de uma nova camada eletrônica. O ciberespaço seria assim um espaço m?gico, uma rede de inteligências coletivas. ? este espaço rizom?tico que vai se comportar como um "Cybionte", auto-organizante e quase orgânico. A humanidade p?s-moderna est? povoada, portanto, de homens simbi?ticos. Como afirmou Joel de Rosnay (1997:156): "o homem do futuro ser? o homem simbi?tico".
Enquanto técnica, o ciberespaço configura o que Heidegger chama a "concepç?o antropol?gico-instrumental da técnica" - segundo a qual, por exemplo, n?o h? qualquer diferença entre um machado de pedra e um satélite de TV como o Telstar... Esta concepç?o é hoje dominante: n?o apenas porque se imp?e "imediatamente e de forma palp?vel", mas porque é "exata no seu contexto". As tecnologias intelectuais relacionadas à inform?tica est?o trazendo à tona uma modalidade de pensamento eminentemente imagético e desterritorializado. Os ?cones e imagens, caracter?sticos do pensamento m?tico associado à tecnologia intelectual da oralidade (Levy, 1995: 82), voltam à tona. Esta imagética, porém, alimentada pelos recursos tecnol?gicos, adquire mais duas dimens?es: a espacializaç?o, a conquista da terceira dimens?o, e a temporalidade pr?pria. Como as outras tecnologias da inteligência, o ciberespaço traz à tona uma nova consciência. A inteligência coletiva é potencializada pelas interfaces maqu?nicas da Era Elétrica.
A escrita, de acordo com Lévy, "n?o s? cria um v?nculo entre geraç?es maiores, mas permite um ac?mulo de conhecimentos no interior de uma sociedade que é também muito maior e permite, além disso, uma organizaç?o da sociedade muito mais complexa do que uma sociedade sem escrita". Depois da escrita, a humanidade sentiu a necessidade de organizar os conhecimentos acumulados, criando as enciclopédias e mais recentemente as bibliotecas. Mesmo incapaz de assimilar tanto conhecimento o homem se sente na necessidade de produzir mais, e encontra no ciberespaço o lugar ideal para essa difus?o.
"N?o se trata mais de uma enciclopédia, mas de uma espécie de plasmopédia, isto é, um espaço de saber vivo e dinâmico. N?s somos o texto".(Lévy, 1998)
Essa afirmaç?o de Lévy transcende o pr?prio texto, pois ele coloca o leitor como co-autor de cada texto. Cada leitor é assim um agente potencializador dos sentidos simb?licos do texto, e vai além, afirmando:
"Na perspectiva dos mundos virtuais de significaç?es, a comunicaç?o n?o é mais concebida como difus?o de mensagens, troca de informaç?o, mas como emergência continuada de uma inteligência coletiva. N?o se deve, evidentemente, concebê-la como uma fus?o de inteligências individuais, em uma espécie de magma indistinto, mas, ao contr?rio, como um processo de crescimento, de diferenciaç?o, de ramificaç?o e de retomada mutual de singularidades".
A inform?tica é produto do desenvolvimento de v?rios dom?nios cient?ficos a partir da década de 40 (cibernética, 1940; inteligência artificial, 1950; teoria da auto-organizaç?o e de sistemas, 1960; e da comunicaç?o de massa do p?s-guerra). Philippe Breton prop?e a divis?o da hist?ria da inform?tica em três etapas: a primeira, de 1940 à 1960, onde a inform?tica estava diretamente ligada à cibernética; a segunda, de 1960 à 1970, com os grandes sistemas centralizados e vinculados à projetos militares; e a terceira, de 1970 até hoje, caracterizada pela micro-inform?tica e pelas redes de telecomunicaç?o. Acrescentar?amos a essas etapas uma divis?o mais recente que inicia nos anos 90, com a substituiç?o dos "mainframes" pelos "backbones". Ambos s?o sistemas servidores de informaç?o para redes inform?ticas, mas de arquitetura bastante diferenciada.
No livro "Understanding media", encontramos uma nova forma de interpretaç?o da realidade técnica, e aprendemos a entender as tecnologias como extens?es do nosso corpo e mente. Ao estendermos o nosso sistema nervoso, através da tecnologia elétrica, as nossas vidas privadas e corporativas tornam-se informaç?o. Na "idade da informaç?o" (express?o que, seguramente, McLuhan é dos primeiros, se n?o o primeiro, a utilizar), a energia, a produç?o, as mercadorias tornam-se cada vez mais informaç?o. Dizermos que as tecnologias s?o "extens?es" do homem é a mesma coisa que dizermos que elas s?o "traduç?es", formas distintas de traduzirmos um modo de conhecimento num outro, uma maneira de experiência em novos tipos.
Em todas as culturas sempre existiu uma "geografia mental", uma "mem?ria coletiva", uma "alucinaç?o" (constitu?da por figuras, s?mbolos, regras, verdades m?ticas, contos, etc.), que é propriedade de todos e se encontra livre dos limites do espaço e do tempo. Ent?o a rede elétrica seria um homônimo dos nossos neurônios em toda sua complexidade de ligaç?es e ramificaç?es ca?ticas. McLuhan afirmava que o uso de determinado ?rg?o ou sentido do corpo entorpecia os demais, é o que se chama de 'concentraç?o'. Dessa forma a televis?o, o r?dio ou o jornal impresso, nos habilita à captaç?o e absorç?o de informaç?es, deixando em segundo plano nossa capacidade de controle, comando e decis?o. Ent?o, supunha-se que ao ter a possibilidade de "programar a consciência", n?s poder?amos escapar ao entorpecimento dos outros media. Programar a consciência é, neste sentido, dar um direcionamento causal para a aquisiç?o de conhecimentos. ? programar o despertador, a gravaç?o daquele programa ao vivo que n?o poderemos ver naquela hora, é o recebimento de e-mail de uma lista de discuss?o, etc.
A sociedade est? em mutaç?o e todos est?o se dando conta disso, uns mais rapidamente outros mais lentamente. Estamos começando a viver na Sociedade do Controle, onde podemos ordenar quase todos os aspectos de nossa realidade, mas estamos apenas no começo, numa estranha transiç?o. Segundo Deleuze, as "sociedades disciplinares", de que Foucault é o grande pensador, têm o seu in?cio nos séculos XVII e XVIII, atingindo o seu apogeu nos princ?pios do século XX. Estas sociedades centram-se na organizaç?o de grandes meios de encerramento, pelos quais o indiv?duo vai passando ao longo da sua vida: a fam?lia, a escola, o quartel, eventualmente o hospital ou mesmo a pris?o (meio de encerramento por excelência, e que serve de modelo a Foucault). Mas, desde os finais da 2? Guerra Mundial, estamos a entrar nas "sociedades de controle", sociedades que funcionam n?o num enclausuramento, mas num controle continuo e na comunicaç?o instantânea. As "sociedades disciplinares" est?o, assim, destinadas a serem substitu?das pelas "sociedades de controle", tal como, a partir do século XVII, substitu?ram as "sociedades de soberania". A cada um destes tipos de sociedades, determinadas por diferentes estratégias, correspondem diferentes tipos de m?quinas. ?s "sociedades de soberania" correspondem às m?quinas simples ou dinâmicas, às "sociedades disciplinares" correspondem às m?quinas energéticas, às "sociedades de controle" correspondem as m?quinas cibernéticas e aos computadores.
"A velocidade vertiginosa da luz substitui as distancias espaciais, anula as distinç?es entre lugares e povos; a palavra de ordem é a realidade virtual, porque a realidade atual n?o é suficiente para nossos esp?ritos, n?o nos satisfaz. Dessa forma encontramos no espaço cibernético as express?es reais de verdades virtuais distintas e, simultaneamente, express?es virtuais das diversas realidades efetivas. O Simbionte é real e virtual ao mesmo tempo. Ele n?o respeita o espaço e distorce o tempo. Na sua profunda dependência por interfaces mais complexas ele se hipercomplexifica. Crescendo a cada instante, suas hiperligaç?es se ramificam desordenadamente em busca de uma coerência semântica totalizante, mas n?o totalit?ria. ? o universal pelo local. Eu sou o in?cio e o fim, ele, esse ser simbionte, é o pr?prio meio, sincrético e cibernético.


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